Leitura finalizada: "The perks of being a wallflower" / "As vantagens de ser invisível", de Stephen Chbosky.


Wallflower
a a person who from shyness or unpopularity remains on the sidelines of a social activity (such as a dance)

b a shy or reserved person

          É muito difícil não sermos influenciados por outras mídias quando consumimos uma obra que já havíamos conhecido antes; e no meu caso isso não foi diferente com este livro. Antes de ler "The perks of being a wallflower" eu já havia assistido ao filme, e gostado muito por sinal.  Talvez esse seja um daqueles singulares momentos em que prefiro o filme ao livro. Não quero entrar muito no quesito cinematográfico, mas existe sim uma diferença de qualidade (e talvez de mensagem) entre as duas produções. 

          A narração é estruturada em formato de cartas escritas pelo Charlie, com um destinatário não definido (Charlie apenas começa todas as cartas escrevendo 'dear friend'). Existem muitos debates em fóruns na internet discutindo para quem as cartas são destinadas, e posso dizer que tenho duas teorias (no final do post escrevo um pouco mais sobre isso). As cartas, narradas em primeira pessoa na maior parte do tempo, contam com uma linguagem muito simples, marcada pela insegurança, depressão e os sentimentos mais autorais, singulares e honestos de um adolescente que sofreu muito nos primeiros quinze anos de vida.

fiquei esperando o Charlie falar de 'Heroes' do Bowie, mas essa foi uma das modificações do filme mesmo. 

          O livro cobre o período de um ano na vida de Charlie, inicialmente muito marcado pela transição para o High school, a nova vida de freshman, rodeado por pessoas estranhas, sentado na cafeteria sem saber com quem conversar, e lidando com a morte de duas pessoas queridas na bagagem emocional. A primeira, a de sua tia, a qual Charlie nunca havia conseguido realmente superar, tentando encontrar explicações e culpa em si mesmo. A segunda, a de um de seus únicos amigos, Michael, o qual conhecemos apenas por alguns relatos das cartas de Charlie, e descobrimos que havia cometido suicídio. A situação de Charlie com sua tia talvez seja algo que eu não deveria escrever sobre aqui, se você já leu o livro sabe por que. Primeiramente porque esse pode ser um livro muito delicado para alguns, com tópicos enraizados em problemas sérios. Mas, digamos que a morte da sua tia não foi o que mais influenciou a vida de Charlie, mas sim o que ela fazia enquanto viva. 

          Os problemas são sutis, muitos estão escondidos na escrita de Charlie, e nós como leitores devemos ler nas entrelinhas para entender algumas motivações e a índole do personagem principal. Eu não sou psicólogo/psiquiatra/terapeuta, e admiro muito o trabalho desses profissionais, mas acredito que o livro pode ter um resultado negativo na vida de algumas pessoas que passaram por qualquer situação retratada no livro (estupro, abuso, suicídio, morte), e talvez o modo "raso" que o livro retrata alguns momentos delicados, não seja a melhor maneira de abordar esse tipo de assunto em qualquer literatura. 

          Os amigos que Charlie acaba fazendo são todos seniors, e acabam virando o grande suporte para o nosso narrador. Patrick (que na produção cinematográfica recebe um ator INCRÍVEL), Sam, Mary Elizabeth, Alice, Bob, e seu professor de literatura, Bill. A maioria dos personagens é bem estruturada, tirando alguns como Alice e Bob, os quais apenas recebemos algumas informações através das cartas. Mesmo com as poucas menções ao Bob, ri muito de alguns episódios com o chapadão da turma hahaha.

          Não faltam menções a filmes, músicas e livros na obra. Alguns livros que eu lembro: "The catcher in the rye", "To kill a mockingbird", "On the road",... Por se passar na década de noventa, fui apresentado a algumas músicas que não conhecia, e outras que já curtia muito. Sem esquecer de mencionar as milhares de vezes em que Charlie menciona 'Asleep' do The Smiths. Posso destacar duas que gostei muito, uma delas do Smashing pumpkins:




          Meu último recado é para quem está estudando a língua inglesa: leiam no original! O livro conta com um vocabulário muito acessível, e a forma que a narrativa é escrita facilita muito o entendimento do leitor (principalmente se essa for a sua primeira leitura em Inglês). Não posso dizer como ficou a tradução porque não tive nenhum contato com a versão em Português, mas com certeza perdeu um pouco da essência em muitos momentos em que Charlie usa vocabulários e insights da cultura americana (mates, aceitem, alguns elementos não 'aceitam' ser transportados de língua/cultura, e acabam perdendo a essência quando são interpretados de outra forma). See you mates.


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(Minha teoria sobre o destinatário das cartas)

          A primeira, e mais boring, seria que as cartas são escritas para o leitor. A segunda, mais interessante mas que não conta com tantos argumentos de suporte, é que Charlie estava escrevendo para aquele garoto que tinha o armário perto do seu no final do livro. Quando ele se apresenta para o menino e apenas recebe um "eu sei...", fiquei pensando que poderia ser aquele o destinatário. O motivo? Talvez seja uma pessoa que não critique o Charlie por não estar em seu convívio, e escrever para ele seria como escrever para um estranho. 

Vocês já leram o livro? O que acharam? Algum tópico para discussão? 



6 comentários:

  1. A sua resenha e críticas me encorajaram a ler o livro. Já assisti ao filme,e sim,é uma obra muito sensível e por vezes complexas -uma das coisas que mais me chamou atenção no livro.

    Enfim,obrigada! (E saudades de você no youtube)

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  2. A forma como o livro relata o abuso é realmente difícil de ser lida para quem já passou por uma situação similar, mas pessoalmente escolhi prestar atenção na mensagem do final. Ir em frente, fazer coisas e tratar o ocorrido. Costumo dizer que um trauma tira o presente e o futuro de alguém, pois viver em função de lembranças dolorosas é como dizer pra si mesmo que por ter um passado ruim não merecemos um presente nem um futuro. Por isso, acredito que o livro abordou bem essa questão, não posso apagar a situação da minha mente, mas ainda assim posso seguir em frente e fazer coisas. :)

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    1. Entendo seu ponto de vista, e realmente acho que o livro aborda nessa forma assuntos já citados, mas acho que na prática tentar seguir em frente é muito mais difícil do que na teoria. Nunca passei por nada parecido com isso, mas qualquer lembrança ruim que temos em nossas vidas normalmente fica "batendo na porta" constantemente. Enfim, acho que a mensagem que fica é de sempre procurar alguém para conversar e tentar mudar alguma coisa, antes que seja tarde demais (conversas com profissionaissssss, mas claro que aquele ombro amigo ajuda). Abraços!

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    2. Concordo. Por isso achei importante o livro relatar a ajuda profissional e como os amigos dele foram de suma importância para que ele pudesse se desenvolver (apesar da dependência emocional surreal que o Charlie tinha por eles), mas o legal é que no fim das contas o tratamento foi o que realmente fez total diferença na vida dele. Tratar dessas questões na literatura e cinematografia é um trabalho difícil, mas acho que o autor fez isso de um jeito bem delicado. Abraços pra ti tbm, parabéns pelo blog, está muito legal de ler!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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